quinta-feira, 22 de março de 2012

mais 2 cigarros pra passar a noite

o motor de velocidade contínua
continua na batida do tambor
em direção à parede de concreto
tentando chegar em seu ponto mais discreto,
enturvando a vista cansada
e chorando ao som da risada

enquanto isso, do outro lado da cidade,
abelhas produtoras de mel
continuam com o zumbido do cordel
e do outro lado do seu grito assassino
no meio da escuridão, só há o olho felino

o verso é fraco, a palavra é incompleta
abutres carniceiros estão a caminho
pra devorar a rima que é a sua dileta

na falta de uma boa composição
não há que se pensar em qualquer inspiração
só a batida do martelo continua no compasso
expondo, gritando, sorrindo pro seu erro crásso

se vir buda na rua, mate-o;
mas se me ver na rua, entre na dança,
ouça a batida do seu coração
e não pese sua cabeça na balança

o vazio é o segredo, o nada é a perfeição,
no meio de tanto barulho não confie na audição,
vá ouvir o som do repique, dançar ao som do samba
acordar às 5 da manhã é o sinal da corda-bamba

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

senhor blecaute, dona nocaute

ouço uma mosca voando no meu ouvido
enquanto estou dormindo
e com o suor grudando as minhas costas no colchão
tento lhe acertar um belo tapa na fuça

daí eu volto a dormir,
sempre de olho no despertador,
e então tenho algum sonho bizarro
e lá pelas quatro da manhã
meu gato começa a miar na janela para entrar

acordar não é o mais difícil,
mas o primeiro pensamento forçado da manhã,
esse sim, derruba qualquer chance de levantar,
tomar um café e sair,
como eu tinha planejado ontem.

então, pra não acordar com o pé esquerdo,
tento por os dois ao mesmo tempo no chão,
levanto, lembro de alguma música
e então os próximos passos:
acender a luz, me vestir, dar meia volta e deitar.

gostaria de te perguntar mais uma vez,
o que nos faz ser tão solitários às cinco da manhã,
quando o despertador martela no seu ouvido,

nesse espaço de tempo tão curto?

deixa pra lá, já estou atrasado.

sábado, 7 de janeiro de 2012

particulas subatômicas de consistência duvidosa cruzando o oceano em velocidade negativa

de cristais polidos e de ferros franzidos
chega no ouvido desatento todo tipo de suspiro,
cada empecilho desprovido de velocidade cósmica
que se atraca no caminho do transeunte desavisado

de pedras preciosas e de falhas maravilhosas,
na terra dos sangue-de-barata e no planeta xyz
dicotomicamente um único objetivo com vários sentidos
e entende-se do jeito que quiser, de vez em quando
um olho de vidro no lugar da curva sinistra

dos anéis de Saturno e da quintessência,
um jato de quartetos de cordas devoradores de sangue
da tropa dos trompetes furiosos no quadrante ao quadrado,
do som violento que contorna as taças de cristais
e acerta em cheio o seu ponto cego

viajante, vadiante e verde-jade
todos estão na filada sopa
tragam as colheres e as vasilhas
de aço e de ferrugem ou de madeira e fuligem
o prato principal é de fino palato
chegue mais e faça o seu prato

de todos os despedaços das animações
de todos os descantos da terra
os trilhos elétricos da válvula mestre
desembocam imediatamente nas tumbas voadoras
e nos jatos atômicos de fissão nuclear

(coda)

de pétalas de neve e de halos lunares,
só os conhecem quem os criou e não os provou,
de lapidários e de mundos de fantasia,
uma triste equação invertebrada
de polos e de apolos

não chore mais, logo já irá acabar
pra esse assunto não existem mais substantivos
tudo aqui só se passará no verbo infinito.